Estudos mostram que jovens autistas têm três a quatro vezes mais chances de sofrer violência sexual em comparação com adolescentes não autistas
A sexualidade é uma parte fundamental da vida humana e é graças a ela que estamos aqui hoje, não é mesmo? Mas sabemos que falar sobre isso pode ser um tabu para muitas pessoas e ainda mais desafiador para aquelas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). As dificuldades de comunicação social, as alterações sensoriais e a necessidade de rotinas estruturadas, características comuns do autismo, podem impactar significativamente a capacidade de fazer amizades e estabelecer relacionamentos amorosos. Assim, desmistificar esse assunto nesta população é fundamental para assegurar qualidade de vida e inclusão.
Desafios na Formação de Relacionamentos
Segundo o Dr. Matheus Trilico, neurologista referência em TEA e TDAH adulto, adultos com TEA frequentemente enfrentam dificuldades em interpretar sinais sociais e emocionais, o que pode dificultar a formação de amizades e relacionamentos amorosos. Estudos indicam que essas dificuldades podem levar ao isolamento social e à solidão, afetando negativamente a qualidade de vida.
Dificuldades Relacionadas à Sexualidade
Além das barreiras sociais, muitos adultos autistas enfrentam desafios específicos relacionados à sexualidade. Uma disfunção no processamento sensorial, por exemplo, pode tornar estímulos como o toque físico desconfortáveis ou até dolorosos.
“Questões sensoriais podem fazer com que o contato físico, que é uma parte importante da intimidade, seja uma experiência desagradável para algumas pessoas com TEA”, explica Dr. Trilico.
Pesquisadores relatam que as mudanças da adolescência, incluindo o despertar da sexualidade, podem ser particularmente desafiadoras para indivíduos com TEA. A falta de conhecimento sobre normas sociais e dificuldades de comunicação podem gerar frustrações e mal-entendidos.
Ainda, o neurologista ressalta que é um equívoco pensar que pessoas com TEA não têm interesse por relacionamentos ou sexo. Por isso, é extremamente importante a educação sexual adequada para essa população. A falta de informação e apoio pode aumentar os riscos de abuso sexual, comportamentos inadequados em público e dificuldades na formação de relações saudáveis”.
A violência sexual é, inclusive, uma triste realidade para essa população. De acordo com o Dr. Matheus estudos mostram que jovens autistas têm três a quatro vezes mais probabilidades do que os jovens não autistas de sofrerem violência sexual e entre 40% e 50% dos adultos autistas relatam experiências de abuso sexual durante a infância. Isso reforça o quanto os autistas precisam de apoio e orientação sobre o assunto desde a infância e não só na vida adulta.
Estratégias de Apoio
Para auxiliar adultos autistas a superar essas complexidades, torna-se essencial adotar abordagens baseadas em evidências. A educação sexual adaptada às necessidades específicas de pessoas com TEA pode ser uma ferramenta poderosa.
“Programas de educação sexual que abordam diretamente as questões sensoriais e sociais podem ajudar a reduzir a ansiedade e aumentar a compreensão sobre a sexualidade”, afirma o neurologista.
Além disso, o tratamento dessa disfunção do processamento sensorial com profissionais adequados, como terapeutas ocupacionais, pode ser extremamente benéfico.
“Intervenções sensoriais personalizadas podem ajudar a reduzir a hipersensibilidade ao toque e tornar as interações físicas mais confortáveis, além também de questões auditivas, olfativas e muitos outros estímulos”, sugere ele.
Uso de Aplicativos e Sites de Relacionamento
Os aplicativos e sites de relacionamento podem ser uma ferramenta útil para adultos autistas. “Essas plataformas permitem que as pessoas se conectem de maneira mais controlada e estruturada, o que pode ser menos intimidante do que interações face a face”, destaca Dr. Trilico.
Um estudo publicado no Journal of Autism and Developmental Disorders (Strunz, et al., 2017) encontrou que muitos adultos autistas relataram experiências positivas ao usar essas plataformas para encontrar parceiros.
O Dr. Matheus Trilico afirma ainda que vários de seus pacientes compartilham a informação de que só conseguiram iniciar um relacionamento amoroso através do mundo virtual, sejam aplicativos próprios de namoro ou mesmo outros de bate-papo, além das mídias sociais. Embora nem todos sejam adeptos dessa tecnologia, é inegável que ela tenha ajudado diversos autistas adultos a se relacionarem.
Conclusão
A sexualidade no TEA em adultos é um tema complexo que requer uma abordagem sensível e informada. “Ao quebrar esse tabu e fornecer educação sexual de qualidade e adaptada para esse público especial, podemos ajudar adultos autistas a terem prazer em suas vidas amorosas e sexuais de maneira mais satisfatória e segura”, conclui Dr. Matheus Trilico.
Mais artigos sobre TEA e TDAH em adultos podem ser vistos no portal do neurologista: https://blog.matheustriliconeurologia.com.br/
Sobre o neurologista:
Dr. Matheus Luis Castelan Trilico – CRM 35805PR, RQE 24818.
– Médico pela Faculdade Estadual de Medicina de Marília (FAMEMA);
– Neurologista com residência médica pelo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC-UFPR);
– Mestre em Medicina Interna e Ciências da Saúde pelo HC-UFPR
– Pós-graduação em Transtorno do Espectro Autista