Por anos, elas foram chamadas de “tímidas”, “perfeccionistas” ou “intensas demais”. Mas, por trás dessas palavras, muitas escondiam uma verdade invisível até mesmo para si mesmas: o autismo. O diagnóstico tardio em mulheres é uma realidade comum, mas pouco falada. “Na minha prática clínica, vejo muitas mulheres que passaram décadas tentando se encaixar, sem entender por que tudo parecia tão mais difícil para elas”, explica o neurologista Dr. Matheus Trilico, referência em TEA e TDAH em adultos.

A busca por respostas muitas vezes só acontece depois de exaustão emocional, crises de ansiedade ou um profundo sentimento de inadequação. Afinal, como seria descobrir, depois de anos de autossabotagem e dúvidas, que você nunca esteve errada—apenas sempre foi neurodivergente?
O Impacto do Diagnóstico Tardio
Um caso emblemático é o de M.A.L., paciente de 50 anos, divorciada e mãe. “M.A.L. descobriu estar no espectro durante o climatério, quando as dificuldades sensoriais e a desregulação do humor se intensificaram”, relata Dr. Trilico. “Ela passou por décadas de diagnósticos equivocados, depressão grave e três relacionamentos mal-sucedidos. Após o diagnóstico correto e tratamento adequado, a melhora foi significativa.”
Este caso ilustra uma realidade comum. “O diagnóstico tardio significa décadas de sofrimento inexplicado e tratamentos ineficazes”, enfatiza o Dr. Trilico. “Essas mulheres frequentemente relatam um senso de não pertencimento, sentindo-se ‘estranhas’. O diagnóstico correto traz uma sensação de ‘libertação’ e autoconhecimento de valor inestimável.”
Fenótipo Feminino e Camuflagem
O autismo em mulheres pode se apresentar de forma mais sutil. “Muitas desenvolvem estratégias sofisticadas de camuflagem, mascarando suas dificuldades sociais”, observa Dr. Trilico. Essa habilidade de “mascaramento” muitas vezes leva a diagnósticos errôneos ou tardios, além de um desgaste emocional.
Desafios Regionais e Comorbidades
O acesso ao diagnóstico de TEA é desigual no Brasil. “Embora não existam estudos específicos, sabemos que o acesso à medicina e ao diagnóstico de TEA é mais difícil no norte e nordeste do país”, afirma o neurologista Dr. Trilico. Além disso, comorbidades como depressão e ansiedade, mais comuns em mulheres autistas, frequentemente obscurecem o diagnóstico do TEA.
Exemplos Inspiradores
Figuras públicas como Letícia Sabatella, diagnosticada aos 52 anos, Alexis Wineman, ex-participante do Miss América, e Greta Thunberg, ativista climática, ilustram a diversidade de experiências e realizações de mulheres autistas, desafiando estereótipos e inspirando outras.
Conclusão
Dr. Matheus Trilico enfatiza: “É crucial aumentar a conscientização sobre as diferenças na apresentação do autismo em mulheres. Precisamos urgentemente adaptar nossas abordagens diagnósticas para capturar toda a gama de expressões do autismo, independentemente do gênero.”
No Mês da Mulher, é essencial trazer à tona conversas sobre saúde mental e neurodiversidade, garantindo que mais mulheres possam se reconhecer, buscar ajuda e viver com mais autonomia e compreensão. Só assim poderemos garantir que mais mulheres recebam o apoio e as intervenções adequadas, transformando vidas e reduzindo décadas de sofrimento desnecessário.